domingo, 30 de dezembro de 2012

Motivação - Um resumo das teorias psicológicas

A motivação humana foi compreendida de formas diferentes ao longo do tempo, sempre de acordo com o pesquisador ou a escola de psicologia considerada.
Segue, para os nossos leitores, um resumo das principais teorias a respeito.

A CONTRIBUIÇÃO DE FREUD

De acordo com Sigmund Freud, para analisarmos os processos inconscientes, primeiramente, temos que entender que a mente consciente exerce um controle sobre o inconsciente, controle esse que se efetua através de uma coerência lógica, a qual se opõe aos relatos inconscientes, inviabilizando a determinação destes se tornarem acessíveis. O sistema inconsciente é formado por conteúdos pessoais reprimidos e pulsões de origem biológica. Estas se opõem normalmente às exigências da realidade e da civilização, o que gera uma atitude de inibição por parte da consciência. Os conteúdos presentes no inconsciente têm uma relação entre si diferente da que ocorre na consciência, reafirmando esta última como um dado inegável da experiência humana. O inconsciente não se caracteriza como um conteúdo específico, mas, como o modo segundo o qual um conteúdo opera, impondo-lhe uma determinada forma. Ele se expressa através de símbolos (perceptíveis principalmente nos sonhos), fato este que decorre dos mecanismos de defesa pré-conscientes, os quais buscam “mascarar” conteúdos recalcados. Não se pode, portanto, ver o inconsciente apenas através de um aspecto biológico, porque o inconsciente só existe quando visto por meio do simbolismo, uma vez que é o recalcamento que produz o inconsciente, e, isso só ocorre por exigência do simbolismo. (ROSA , 1984).

A energia psíquica ou libido, responsável pela viabilização dos processos mentais é de cunho essencialmente sexual. Freud tendia a conceber a origem das psicopatologias na problemática sexual, sobretudo advinda da infância. Muito daquilo que vivenciamos quando criança permanece conosco ao crescermos, por vezes, sob a forma de complexos e desejos recalcados. Estes têm uma participação decisiva na estruturação de nossa personalidade e, por conseguinte, na motivação de nossos hábitos, crenças e atitudes (REIS, MAGALHÃES; GONÇALVES, 1984).


A CONTRIBUIÇÃO DE JUNG

Jung (1983), criador da psicologia analítica, em contraposição à tese freudiana do inconsciente, postula que o comportamento humano é condicionado não apenas pela história individual, mas também racial e coletiva. A teoria Junguiana da personalidade compreende tanto o campo da consciência e seus aspectos quanto o do inconsciente. A criança ao nascer, apresenta um padrão de funcionalidade psíquica inconsciente. Através de sua colisão com a realidade externa, tem início a formação da estrutura egóica, processo que perdurará por toda a vida. O ego, portanto, é o centro da personalidade consciente, sujeito de todas as adaptações do indivíduo ao meio e possuidor de certa vontade livre. Ele não representa, entretanto, o cerne da personalidade total, senão uma de suas várias manifestações.

Por de trás da consciência, agem fenômenos obscuros e imprevisíveis ao Ego, e que constituem a ação de uma entidade ao mesmo tempo distinta e profundamente vinculada à personalidade consciente: o Self, ou a expressão da totalidade psíquica (si mesmo). Todo ser humano traz em si um impulso básico à expressão e ao desenvolvimento de suas potencialidades. A meta de nossa existência, segundo Jung, consiste no aperfeiçoamento e integração cada vez maiores da personalidade, visando assim à expressão daquilo que somos em essência. Cada ser é especial e singular e tem como caminho tornar-se o ser único que de fato é. A isso Jung deu o nome de processo de individuação (REIS, MAGALHÃES; GONÇALVES, 1984).

Jung via a personalidade individual como produto e continente de sua história ancestral. Os seres humanos modernos foram moldados em sua presente forma pelas experiências cumulativas de gerações passadas. As fundações da personalidade são primitivas, inatas, inconscientes e provavelmente universais. Nascemos com muitas predisposições legadas por nossos ancestrais; essas predisposições orientam nossa conduta e determinam em parte aquilo de que nos tornaremos conscientes e que responderão em nosso mundo experencial, isto é, existe uma personalidade racialmente pré-formada e coletiva que funciona seletivamente no mundo da experiência e é modificada e elaborada pelas experiências vividas conscientemente. A personalidade de um indivíduo resulta de forças internas agindo sempre sobre e sendo influenciadas por forças externas (REIS, MAGALHÃES; GONÇALVES, 1984).

Jung considera o inconsciente como uma parte tão vital e tão real da vida de uma pessoa quanto a consciência e o mundo do Ego. Em um de seus exemplos, Jung, relaciona a capacidade do inconsciente com a nossa vida diária, ao nos depararmos com dilemas e conflitos, e, resolvermos de forma surpreendente através de inspirações advindas do inconsciente (JUNG, 1985).

Jung concebia a existência de dois tipos de inconsciente: o pessoal e o coletivo. O inconsciente pessoal representa o depositário de conteúdos que não obtém a aceitação do Ego: contém material dotado de carga libidinal insuficiente para atingir a consciência, ou que não se harmoniza com ela e, portanto, não pode nela permanecer. Contém material reprimido carregado de forte potencial afetivo (ódio, inveja, agressividade), que tendem a formar complexos. Em suma, o inconsciente pessoal corresponde o mesmo que o inconsciente freudiano. Numa ampliação da teoria de Freud, Jung postula a existência de um inconsciente coletivo, o qual é formado de disposições latentes herdadas, que induzem reações idênticas em quase todas as pessoas: são os arquétipos, que constituem a representação psíquica da estrutura cerebral. Os arquétipos são impessoais, comuns a todos os homens e transmitem-se pôr hereditariedade. A mente humana não está presa somente ao passado de sua infância, mas ao passado de sua espécie. Assim como o homem herda caracteres biológicos, herda também imagens e experiências de um passado ancestral, inconscientemente (JUNG, 1983).

A CONTRIBUIÇÃO DE MASLOW

Segundo Abraham Maslow (1999), grande parte da natureza interna é inconsciente. O reprimido permanece, no entanto, como determinante do comportamento. A fonte de repressão pode ser externa ou intra-psíquica. O núcleo interno ou EU alcança a idade adulta, como criação pessoal. A vida é uma série de escolhas onde há um determinante pessoal preponderante.

Maslow propôs um ponto de equilíbrio entre necessidades biológicas e sociais, integrando, dessa maneira, diversos conceitos em teoria da motivação. Segundo ele, as pessoas assumem várias necessidades que competem entre si para expressar-se. Tais necessidades se agrupam hierarquicamente de acordo com as propriedades da pirâmide, sendo que as necessidades mais básicas têm de ser satisfeitas primeiro, para que as demais possam emergir. Na base da pirâmide, encontramos as necessidades fisiológicas fundamentais, indispensáveis à sobrevivência, como a de comida, água, sono, sexo, temperatura estável, etc. Elas têm de estar consideravelmente satisfeitas para que o indivíduo comece a se preocupar com necessidades mais elevadas. Ao alcançar uma satisfação razoável de suas demandas fisiológicas, o indivíduo atinge então a segunda camada da pirâmide constituída pelas necessidades de segurança e proteção. A satisfação destas induzirá a busca por amor e pertinência, estima, estética e, finalmente, à Auto-realização, meta primordial de todo ser humano. As pessoas se tornam frustradas quando não conseguem fazer uso de todo o seu talento ou buscar seus interesses verdadeiros (SHULTZ e SHULTZ, 1999).

A pessoa motivada pelo crescimento, ou auto-realização, é capaz de centralizar-se nos problemas e perceber situações e outras pessoas de modo mais objetivo, e, possui a capacidade de auxiliar-se por si mesma. Um passo rumo à nossa auto-realização é reconhecer as próprias defesas e trabalhar para abandoná-las. Precisamos nos tornar mais conscientes das maneiras pelas quais distorcemos nossa auto-imagem e a do mundo exterior através da repressão, projeção e outros mecanismos de defesa ((SHULTZ; SHULTZ, 1999).

A CONTRIBUIÇÃO DE ROGERS

Dentre os autores que se opuseram ás teorias do inconsciente e buscaram formas alternativas para explicar o fenômeno da motivação humana, estão B.F. Skinner e Carl Rogers. Através da teoria de Rogers tomamos conhecimento de várias premissas, inerentes à consciência humana. Para ele, em último caso, só temos acesso aos dados de nossa experiência consciente. Nossa vida é determinada em grande parte pelas escolhas que fazemos e pelo conceito que desenvolvemos acerca de nós mesmos (SHULTZ; SHULTZ, 1999).

Rogers acredita que o organismo humano vem progredindo em direção a uma evolução cada vez mais plena da consciência; esta é sua meta e seu caminho. Sendo que nesse nível - o da consciência - surgem possivelmente novas direções para a espécie humana, temos uma relação recíproca entre causa e efeito, e é neste instante em que as escolhas são feitas e que as formas espontâneas são criadas, estando assim diante da mais desenvolvida das funções humanas. O autor manifesta seu pensamento fundamentado na existência do que seria a autoconsciência, a qual torna possível uma escolha mais livre de introjeções, uma escolha consciente mais em sintonia com o fluxo evolutivo, que também permite à pessoa maior potencial consciente, dos estímulos, idéias, sonhos, e do fluxo de sentimentos, emoções e reações fisiológicas advindas do seu interior (ROGERS, 1983).

Porém, ainda que uma pessoa esteja funcionando dessa forma, não quer dizer que ela esteja consciente de tudo o que se passa no seu mundo interno. O indivíduo pode viver subjetivamente suas experiências, ou pode abstrair essa subjetividade e formular conscientemente um sentimento - estou sofrendo, estou com medo, estou amando - o que realmente importa é que, quando uma pessoa está funcionando plenamente, não há barreiras, inibições que impeçam a vivência integral do que quer que seja presente no organismo. A consciência está participando de forma mais ampla e criativa. “A maioria dos modos de comportar-se adotados pelo organismo são os conscientes com o conceito do eu ...” (ROGERS, 1975, p. 507).

Para Rogers, o auto-conceito nem sempre está na consciência, mas sempre existe para ela, isto é, o auto-conceito, por definição, não considera a imagem e a avaliação que o indivíduo faz de si mesmo inconscientemente, ou seja, que não está ao alcance da consciência. O auto-conceito é considerado fluido, mais um processo do que uma entidade; mas, num dado momento, passa a agir como uma entidade fixa. Para Rogers, como o self não tem acesso aos conteúdos inconscientes, estes não são levados em conta; leva-se em conta apenas o que está ao alcance da consciência. Desse modo, o autor coloca de lado a possibilidade de analisarmos o inconsciente, contrariando a visão determinista da psicanálise (ROGERS, 1975).

O self é a figura que o indivíduo tem de si mesmo. A maior parte do comportamento adotado por uma pessoa é consistente com seu auto-conceito, ou seja, o comportamento decorre da convergência entre o self e a experiência. O organismo reage ao campo do modo como o vivencia e o percebe; este campo perceptual é, para o indivíduo, a realidade. O comportamento é fundamentalmente uma tentativa do organismo para satisfazer suas necessidades como vivenciadas; no campo como ele o percebe, essa tentativa é dirigida a objetivos. (ROGERS, 1975).

O melhor ponto para observar o comportamento é o quadro de referência interno do próprio indivíduo. Rogers pretende ressaltar com essas proposições que somente o próprio indivíduo pode conhecer seu mundo de experiência de modo completo e genuíno; jamais poderemos conhecer a plena experiência de outra pessoa. Dessa forma, entender um outro indivíduo através do seu próprio quadro de referência é concentra-se na realidade subjetiva que existe na experiência do indivíduo em qualquer momento. É necessário empatia para alcançar esse entendimento; aqui Rogers demonstra sua principal crítica à Psicanálise, à idéia de que é possível ao psicanalista conhecer o mundo interno do indivíduo por meio de técnicas e pressupostos teóricos específicos (ROGERS, 1975; 1983).

A CONTRIBUIÇÃO DE SKINNER

Já de acordo com B.F. Skinner, um dos principais representantes da escola comportamental em psicologia, não há como estudar o ser humano do ponto de vista de sua subjetividade; seus sentimentos, emoções e processos do pensamento devem ser levados em consideração, mas definitivamente não são passíveis de sofrerem a aplicação dos métodos da ciência empirista. O único meio razoável para a compreensão do homem é o de seu comportamento manifesto: o mundo da objetividade (SKINNER, 1974).

Através da explicação do autor, tomamos conhecimento de que o comportamento é extremamente complexo, desde que é um processo, e não uma coisa. O comportamento não pode ser facilmente imobilizado para observação; ele é mutável, fluido e desaparece, e, por esta razão, faz grandes exigências técnicas da engenhosidade e energia do cientista. Ainda que o comportamento seja determinado por muitos fatores, pode ser tratado em termos de leis. Existe o interesse em saber por que os homens se comportam da maneira como o fazem, portanto, qualquer condição que tenha algum efeito demonstrável sobre o comportamento deve ser considerada. Está-se interessado nas causas do comportamento humano. Descobrindo e analisando estas causas poderemos prever o comportamento e controlá-lo, na medida em que o possamos manipular. Skinner enfatiza, dessa forma, a extrema importância do meio ambiente para o controle do comportamento; sempre existe algum controle do meio sobre o comportamento, ainda que alguém se empenhe em rejeitar o mundo, através da redução sistemática de certas formas de controle do mundo sobre ele, fisicamente a interação continua (SKINNER, 1974).

Há dois tipos principais de comportamento: respondente (involuntário e incondicionado) e operante (voluntário e condicionável). Vários são os métodos de controle do comportamento. Todos eles tem por base o conceito de reforço. Segundo Reese (1978, pág.16): “[...] o reforço é qualquer evento que aumenta a força de qualquer comportamento operante”. O ato de oferecer um reforço conseqüentemente após uma resposta, constitui um reforçamento. Tanto o reforço quanto o reforçamento podem ser positivo ou negativo. No caso de reforçamento positivo, o reforço utilizado deve estar diretamente relacionado com algo agradável tanto ao sujeito quanto ao indivíduo reforçador, por isso, também será positivo. Este tipo de reforçamento tende sempre a beneficiar o reforçador.

Analisando a interação de dois ou mais indivíduos em sistema social temos um tipo específico de comportamento social, o qual pode ser definido como o comportamento de duas ou mais pessoas em relação ao ambiente comum. As emoções sociais são predisposições para agir de modo que podem ser positiva ou negativamente reforçadora para outros. O favor e amizade, por exemplo, se referem a tendência para administrar reforços positivos; o amor poderia ser analisado como a tendência mútua de dois indivíduos a se reforçarem um ao outro. Em lugar de tendências para se comportar de certos modos, podem ilustrar tendências para ser reforçado por certos estímulos sociais (SKINNER, 1974).

O comportamento humano é controlado por muitas instâncias sociais: pelo governo, pela religião, pela psicoterapia, pela economia, e pela educação. O governo se utiliza de técnicas de punição, ele é o poder para punir. A religião se utiliza de uma extensão da técnica governamental, ou seja, classificando o comportamento não só como bom e mau, legal e ilegal, mas como moral e imoral ou virtuoso e pecaminoso, é então reforçado ou punido de acordo. Sob o ponto de vista da psicoterapia, certos subprodutos não resultam em vantagens para o controlador e muitas vezes são prejudiciais tanto para o indivíduo quanto para o grupo. São especialmente encontrados onde o controle for excessivo ou inconsciente – aqui, inconsciente deve ser compreendido no sentido de não-perceptível. Um exemplo simples do controle econômico é a indução de um indivíduo a realizar um trabalho através de reforço com dinheiro ou bens. Da mesma forma que o comportamento do indivíduo é positivamente reforçado pelo grupo, os bens são bons no sentido de serem positivamente reforçadores. O reforço educacional faz certas formas prováveis em determinadas circunstâncias. Ao preparar o indivíduo para as situações que ainda não surgiram, os operantes discriminativos são colocados sob controle de estímulos que provavelmente ocorrerão nessas situações. Eventualmente, conseqüências não educacionais determinarão se o indivíduo continuará a se comportar da mesma maneira. A motivação humana, para Skinner, depende essencialmente de estímulos externos. Embora interno, o motivo só é desencadeado graças à ação do ambiente sobre o indivíduo; ele é a forma como o indivíduo reagirá frente à influência do meio (SKINNER, 1974).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreender as diferentes abordagens sobre o inconsciente, implica reconhecer um aspecto crucial da vida humana; tanto no sentido do que foi negligenciado ou reprimido, quanto do que ainda existe em potência, como possibilidade de realização. Qualquer um destes sentidos, no entanto, apontam para o entendimento das causas dos motivos humanos, para um lado de nossa personalidade importantíssimo, porém, comumente olvidado.

REFERÊNCIAS

JUNG, C.G. Psicologia do inconsciente. Petrópolis: Vozes, 1983.

JUNG, C.G. A prática da psicoterapia. Petrópolis: Vozes, 1985.

JUNG, C. G. Fundamentos de psicologia analítica. Petrópolis: Vozes, 1985.

LAPLANCHE, J. Vocabulário da psicanálise. Martins Fontes, 2001.

MURRAY, E. J. Motivação e emoção. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

REESE, E.P. Análise do comportamento humano. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978.

REIS, A. O. A; LÚCIA, M. A. M; WALDIR, L. G. Teorias da personalidade em Freud, Reich e Jung. In. Temas básicos de psicologia, Vol. 7. São Paulo: EPU, 1984.

ROGERS, C. R. Terapia centrada no cliente. São Paulo: Livraria Martins Fontes, 1975.

ROGERS, C. R. Um jeito de ser. São Paulo: Epu, 1983.

ROSA, L. A. G. Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1983.

SHULTZ, D. P; SHULTZ, S. E. História da psicologia Moderna. São Paulo: Cultrix, 1999.

SKINNER, B.F. Ciência e comportamento humano. São Paulo: Edart, 1974.