A negação do ciúme indica forte repressão de tal sentimento, o que o fará desempenhar um papel muito maior na vida mental inconsciente.
Existem três camadas do ciúme:
1) Competitivo ou normal;
2) Projetado;
3) Delirante
Os três tipos estão sempre em interação, com predominância de um ou outro em cada caso.
1) Ciúme normal- Características: pesar, sofrimento por perder o objeto amado para um outro.
- Inclui também um elemento de ferida narcísica (“Quem ele/ela pensa que é para me trocar por aquele/aquela insignificante? Logo eu?”).
- Sentimentos de inimizade contra o(a) rival bem-sucedido(a), acompanhados de certa autocrítica e culpa por ter perdido o objeto amado.
- Embora possa ser chamado de normal, este ciúme não é, em absoluto, racional.
- Pelo contrário, ele enraíza-se no inconsciente do indivíduo, chegando até as primeiras manifestações emocionais da vida da criança, no complexo de Édipo.
- Deriva também das intrigas entre irmãos na infância, competindo pela atenção dos pais.
- Em certas pessoas, é experimentado bissexualmente: um homem não apenas sofrerá pela mulher que ama e odiará seu rival, mas sentirá pesar pelo rival, a quem ama inconscientemente, e ao mesmo tempo, ódio pela mulher, como sua rival. Esse último conjunto de sentimentos adicionar-se-á à intensidade do seu ciúme heterossexual.
- Esquematicamente, temos:
2) Ciúme projetado
- Origina-se, tanto no homem quanto na mulher, da sua própria infidelidade na vida real, ou de impulsos no sentido da traição que foram reprimidos.
- Por não aceitar em si mesmo tais impulsos, a pessoa os projeta em seu(sua) companheiro(a).
- Quanto mais o indivíduo nega tais impulsos, por razões morais ou sociais, mais forte será a pressão compensatória dos mecanismos inconscientes, sendo também maior a projeção.
- Esse tipo de ciúme é alimentado ainda pelos eventuais comportamentos de infidelidade do(a) companheiro(a) – quer sejam concretos, quer fantasiados. É como se a pessoa ciumenta ficasse mais atenta a qualquer deslize do outro, exagerando-os no sentido de justificar suas queixas a respeito e continuar mantendo suas projeções.
- Esse tipo de ciumento não conhece a tolerância e não aceita ficar para trás de modo algum. Trata-se de um ciúme quase delirante, mas não difícil de tratar
3) Ciúme delirante
- Assim como o tipo anterior, este ciúme também advém de impulsos de infidelidade reprimidos. Todavia, neste caso, o objeto é do mesmo sexo do indivíduo.
- Trata-se de uma forte homossexualidade (estrutural) que tomou seu curso entre as formas clássicas de paranóia ao invés de ser vivenciada concretamente pelo indivíduo. No ciúme delirante, os outros dois também aparecem.
- Tanto no homem quanto na mulher, o ciúme delirante pode ser esquematizado da seguinte maneira (tomando como exemplo o homem):
Texto e figuras por Maria de Fátima Fernandes.
Baseado em Freud: "Alguns Mecanismos Neuróticos no Ciúme, na Paranóia e na Homossexualidade".
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