segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O que é o ciúme? Uma visão psicanalítica


Trata-se de um estado emocional normal, tal qual o luto, e todos podem manifestá-lo.

A negação do ciúme indica forte repressão de tal sentimento, o que o fará desempenhar um papel muito maior na vida mental inconsciente.

Existem três camadas do ciúme:

1) Competitivo ou normal;

2) Projetado;

3) Delirante

Os três tipos estão sempre em interação, com predominância de um ou outro em cada caso.

1) Ciúme normal

- Características: pesar, sofrimento por perder o objeto amado para um outro.

- Inclui também um elemento de ferida narcísica (“Quem ele/ela pensa que é para me trocar por aquele/aquela insignificante? Logo eu?”).

- Sentimentos de inimizade contra o(a) rival bem-sucedido(a), acompanhados de certa autocrítica e culpa por ter perdido o objeto amado.

- Embora possa ser chamado de normal, este ciúme não é, em absoluto, racional.

- Pelo contrário, ele enraíza-se no inconsciente do indivíduo, chegando até as primeiras manifestações emocionais da vida da criança, no complexo de Édipo.

- Deriva também das intrigas entre irmãos na infância, competindo pela atenção dos pais.

- Em certas pessoas, é experimentado bissexualmente: um homem não apenas sofrerá pela mulher que ama e odiará seu rival, mas sentirá pesar pelo rival, a quem ama inconscientemente, e ao mesmo tempo, ódio pela mulher, como sua rival. Esse último conjunto de sentimentos adicionar-se-á à intensidade do seu ciúme heterossexual.

- Esquematicamente, temos:

2) Ciúme projetado

- Origina-se, tanto no homem quanto na mulher, da sua própria infidelidade na vida real, ou de impulsos no sentido da traição que foram reprimidos.

- Por não aceitar em si mesmo tais impulsos, a pessoa os projeta em seu(sua) companheiro(a).

- Quanto mais o indivíduo nega tais impulsos, por razões morais ou sociais, mais forte será a pressão compensatória dos mecanismos inconscientes, sendo também maior a projeção.

- Esse tipo de ciúme é alimentado ainda pelos eventuais comportamentos de infidelidade do(a) companheiro(a) – quer sejam concretos, quer fantasiados. É como se a pessoa ciumenta ficasse mais atenta a qualquer deslize do outro, exagerando-os no sentido de justificar suas queixas a respeito e continuar mantendo suas projeções.

- Esse tipo de ciumento não conhece a tolerância e não aceita ficar para trás de modo algum. Trata-se de um ciúme quase delirante, mas não difícil de tratar

3) Ciúme delirante

- Assim como o tipo anterior, este ciúme também advém de impulsos de infidelidade reprimidos. Todavia, neste caso, o objeto é do mesmo sexo do indivíduo.

- Trata-se de uma forte homossexualidade (estrutural) que tomou seu curso entre as formas clássicas de paranóia ao invés de ser vivenciada concretamente pelo indivíduo. No ciúme delirante, os outros dois também aparecem.

- Tanto no homem quanto na mulher, o ciúme delirante pode ser esquematizado da seguinte maneira (tomando como exemplo o homem):

Texto e figuras por Maria de Fátima Fernandes.
Baseado em Freud: "Alguns Mecanismos Neuróticos no Ciúme, na Paranóia e na Homossexualidade".

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