terça-feira, 20 de novembro de 2012

O Suicídio

Schopenhauer (1819/1986) reafirma a vontade de querer-viver presente no suicídio, reforçando que todo aquele que tem o desejo de se suicidar ainda assim está se utilizando do querer-viver, logo, sendo escravo desse desejo. Este querer-viver, Schopenhauer o define como sendo predominante em qualquer ser e mesmo que se deseje o querer-morrer, está se pondo fim apenas a vida individual porque a vida em si continua viva na Vontade Universal. Somos levados a pensar, pela representação de mundo que viemos adquirindo ao longo dos tempos, que todo aquele que não quer continuar a viver, deve tirar a sua própria vida, sendo isto o resultado de sua insatisfação frente ao ato de permanecer vivo. Através da obra de Arthur Schopenhauer, tomamos conhecimento do fato que circunda o ato de suicídio. Este está intimamente ligado com o querer-viver que nada mais é senão a expressão da Vontade Universal fragmentada na vontade individual do ser. Uma vez que esta vontade individual objetivada pelo corpo humano deixa de ser confortável a este indivíduo por qualquer causalidade, podendo ser por uma doença ou um revés financeiro os quais levam o indivíduo a frustrações e sofrimentos; com estas intempéries, ocorre que não é mais interessante para ele continuar nesta trajetória, então tem o desejo de por fim a esta vida, ou seja, desistir de submeter a vontade de querer-viver ao julgo deste corpo para se juntar a Vontade Universal. (HUISMAN; VERGEZ, 1988). Por isso ainda que o indivíduo opte pelo suicídio pode-se afirmar que está presente em si o querer-viver. Apenas não está presente o querer-viver na vontade- individual, permanecendo, porém, intacto na Vontade-Universal. Ora, o indivíduo deixa de viver nesta vida individual para continuar este querer-viver na Vida Universal. Constata-se dentro da visão Schopenhaueriana que o suicídio é uma afirmação intensa da Vontade, pois o indivíduo desejaria viver; o que ele não suporta é a renuncia aos gozos da vida à medida que os mesmos lhes são privados. Há então o desejo de negar a vida pelo sofrimento causado. Nesta condição, o indivíduo renuncia a vida, “esta vida”, mas ele não renuncia o próprio “querer-viver” (HUISMAN; VERGEZ, 1988). Para Schopenhauer (1819/1986), o suicídio é um ato inútil que apenas impede o indivíduo de transpor-se aos males que o circundam e que paralisam a realização de seus desejos em suprimir as inferioridades transcendendo-as em experiências bem sucedidas, reafirmando, desse modo, o desejo de manter vivo o querer-viver individual. Segundo o prisma do Autor a vida é tida como infalível e para sempre, assim como é inerente ao querer-viver; lembra-nos ainda que, na mesma proporção, o sofrimento também é inerente à vida, concluindo que o suicídio não põe fim à vida. Neste caso, apenas é destruído desnecessariamente o fenômeno particular o qual nem por um instante abala a estrutura da Vontade, por ser ela inatingível. O ato do suicídio é revelado pelo indicador de que o indivíduo está numa luta terrível contra o querer-viver que está em si, desejando não estar em si mesmo para não viver o que o atormenta em seu mundo. Deste proceder observa-se que nestes casos de suicídio prevalece o aniquilamento do corpo para suprimir a dor. O que não se tem em conta é que a Vontade Universal não tem relação com o tempo, com espaço ou causalidade, está presente independentemente de qualquer manifestação individual, na qual nada interfere, porque apesar da destruição do fenômeno a Vontade permanece intacta. Contudo, a fonte da eterna libertação que está contida na Vontade Universal está presente na vontade-individual, na devida proporção que torne possível, através dos fenômenos objetivados pelo corpo, a manifestação desta Grande Vontade, ou seja, a concretização da Vontade Universal. Esta vontade-individual é que é suprimida quando da morte, se esvaecendo, com isso, no Grande Todo, na Vontade Universal, tal como a gota de água isolada que então retorna para mar e se confunde em meio a todas as outras, perdendo sua individualidade (HUISMAN; VERGEZ, 1988). Schopenhauer deixa sua mensagem que diz: “Desvendar o enigma do mundo, no próprio mundo e não fora dele” (CACCIOLA, 1991, p. 25).

Nenhum comentário:

Postar um comentário